
Entre Ruas e Causos - Cafés e Teatros
Cafés, teatros e afetos: reflexões sobre o Centro a partir de uma narrativa do fotojornalismo
Já dizia Charles Baudelarie, no poema O Cisne, do livro As Flores do Mal, a respeito de todas as cidades: “Foi-se a velha Paris (de uma cidade a história depressa muda mais que um coração infiel)”.
Os cafés, especialmente o Café Central, inaugurado em 1945, foi um dos pontos de encontro mais populares de Goiânia, onde se reuniam homens de negócios, fazendeiros e bancários para firmarem tratos comerciais, segundo matéria do O Popular. O prédio histórico onde ficava o Café Central, na esquina da Avenida Anhanguera com a Rua 7, foi comprado e hoje a fachada vermelha de uma joalheria ocupa o lugar, escondendo a arquitetura art déco, um patrimônio histórico da cidade.

Em 2019, uma nova empresa abriu um café de mesmo nome, Café Central, no endereço ao lado. Entretanto, a história se perdeu ao longo dos anos, dos proprietários, da memória coletiva dos goianienses - hoje, poucos ainda se lembram da sensação que foi o local.

Apesar da história lamentável do Café Central, outras cafeterias têm feito história no centro, formando novos pontos tradicionais. O café Tia Nair abriu as portas em 2003, vendendo todo o tipo de doces e salgados. Caracteristicamente familiar, os primeiros clientes foram os trabalhadores das lojas do centro os alunos das escolas próximas, que espalharam o sabor caseiro para amigos e família.

A antiga fachada era simples, mas sempre convidativa para todos que passavam pela Rua 4, em Goiânia. Dona Nair, que não quer parar de trabalhar nunca, dedica sua vida ao café. A fachada foi modernizada e hoje é conhecida por todos que vivem na capital, consolidando-se como um estabelecimento crucial dentro do centro.
Agora, o estabelecimento já tem clientes fiéis que trazem toda sua família para lanchar e apreciar um tempo de qualidade, criando momentos especiais na cidade onde nasceram e cresceram, onde nascem e crescem.



Outro local característico da história do centro de Goiânia é o teatro. O então chamado Cine Teatro Goiânia foi criado em 1942, durante o Batismo Cultural da nova capital - atualmente é chamado de Teatro Goiânia e mantém seus detalhes arquitetônicos do estilo art déco e teve sua última reforma em 1998.

"Para adentrar ao luxuoso Cine-Teatro Goiânia, o edifício mais imponente das décadas de 1940 e 1950 da capital, era fundamental estar vestido a rigor para as matinês e sessões perfumadas que tomavam conta dos finais de semana da cidade", relata OPopular em matéria de homenagem ao aniversário de 89 anos de Goiânia.
Entretanto, o coração cultural da cidade já não é mais o mesmo: os espaços do Teatro de Goiânia, apesar do funcionamento regular, preços acessíveis, e divulgação pela Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce Goiás), já não é tão frequentado. Esse esvaziamento simbólico e físico do teatro se insere em um processo mais amplo de apagamento do cenário cultural goianiense, principalmente em seu centro histórico. O que antes era um ponto de encontro para diferentes manifestações artísticas, hoje muitas vezes passa despercebido, resistindo graças a esforços pontuais de artistas locais e movimentos culturais independentes. Assim, o Teatro Goiânia torna-se um símbolo da luta contra o apagamento da história viva da cidade, um patrimônio que, embora ainda de pé, sofre com o silêncio que o cerca.





Outro teatro de grande importância cultural é o Teatro Goiânia Ouro, ou apenas Teatro Ouro, construído na década de 1970 dentro da Galeria Ouro, antigamente apenas como Cinema Ouro, na esquina das Ruas 9 e 3. Desde 2006 o espaço abriga o Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, que conta com teatro, cinema, biblioteca, café, cursos e loja. Muitos artistas goianos utilizam o espaço para manter viva a cultura do teatro e do cinema e é um dos espaços públicos mais adotados pela população para preservação e incentivos de atividades culturais no centro.
Apesar da tentativa, assim como outros cinemas e teatros de rua, o Centro Ouro tem perdido espaço para shoppings e sofrido com o esvaziamento do centro (a partir do crescimento da cidade e desenvolvimento das periferias).





O teatro, que durante décadas foi um dos pontos de efervescência cultural, hoje enfrenta dificuldades para atrair público, especialmente diante da preferência cada vez maior por espaços comerciais fechados e padronizados. Assim como ocorre com o Teatro Goiânia, o Ouro resiste como um bastião da memória e da arte goianiense, sustentado por artistas, gestores e movimentos culturais que, mesmo com recursos limitados, insistem em manter viva a história e o espírito de um centro que já foi pulsante.
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